A Fuga do Filósofo

Neste artigo: A História de Uma Fuga Muito Arriscada e Temas Para Conversas com Familiares e Amigos

 

Sinopse 

Na Holanda do século XVII mais precisamente em 1619, o filósofo Hugo Grotius foi acusado de traição pelas forças políticas da época. Sentença: prisão perpétua no insalubre e úmido castelo Loevestein. A sua fuga espetacular, que foi preparada por sua esposa, foi em um baú de madeira.

Uma Mente Inquieta e Brilhante

Hugo Grotius foi inegavelmente uma criança-prodígio: aos 11 anos ingressou na Universidade e aos 15 defendeu sua tese de doutorado. Era um homem de muita influência em sua época. Escreveu sobre os mais variados temas, do direito às artes passando pela política e filosofia. Seu livro “Sobre as leis da guerra e da paz” deu-lhe o reconhecimento mundial como o “pai do direito internacional”.

Perseguido Por Suas Ideias

A conturbada Holanda vivia um período de instabilidade na política e religião. Havia um embate intenso entre dois grupos bem definidos: os Calvinistas liderados por Maurício de Nassau, que era ligado ao governo e o grupo Arminianista de Johan van Oldenbarnevelt, que era mentor de Grotius. Nos bastidores de cada lado a disputa pelo poder, riqueza e influência se mostrou comum e muito acirrada.
No ano de 1613 van Oldenbarnevelt publicou um texto no qual defendia veemente uma política oficial de tolerância religiosa. O artigo escrito por Hugo Grotius foi tão explosivo que os confrontos aconteceram em todo o país a ponto de as autoridades saírem às ruas com suas tropas. Maurício de Nassau aproveitou a oportunidade para organizar um tribunal de exceção para julgar os “agitadores da nação”. Após um longo processo repleto de várias acusações forjadas, em 29 de agosto de 1618 van Oldenbarnevelt e Grotius foram declarados culpados por traição. Suas sentenças: guilhotina para van Oldenbarnevelt e prisão perpétua para Grotius, a ser cumprida no úmido, frio e insalubre castelo de Loevestein.
Os amigos do filósofo apelaram ao tribunal mas Maurício articulou de antemão com todos os integrantes para manutenção da sentença. Dentre os defensores estava sua esposa, Maria. Ela peticionou para permanecer com seu marido no cárcere durante sua sentença. Depois de ter o pedido negado, ela se tornou de tal modo um estorvo e irritação para os membros do tribunal que eles em acordo concederam a demanda e Maria se juntou a seu marido no castelo.

Restrições da Pena do Filósofo

Loevestein é uma fortaleza medieval localizada a aproximadamente 8 km da cidade de Gorichem. Construída em uma ilha cercada pelos rios Waal e Maas tem várias torres com algumas minúsculas janelas e rodeada por um fosso. Para a pena do filósofo a vigilância do castelo passou a ser 24h, tornando improvável qualquer fuga.
Uma das determinações da sentença era a proibição de Hugo Grotius escrever cartas com conteúdo político a seus camaradas. Com efeito checava-se na entrada e na saída cada um dos objetos e correspondências. Com o passar do tempo a guarda permitiu o recebimento de livros, que chegavam por um baú de madeira.

A Esposa Perspicaz e Inteligente

Para não ficar deprimido com sua situação Grotius buscou ocupar a mente através do estudo. Durante os primeiros vinte meses ele escreveu, de memória, um resumo e fascículos de introdução à Lei holandesa. Mas o que mais incomodava a ele e sua esposa Maria era que seus adversários políticos poderiam de uma hora para outra fabricar um motivo para executá-lo.
Com o passar do tempo a guarda ficou menos criteriosa na inspeção dos livros e objetos que entravam e saíam do castelo pela pequena caixa de madeira. Eles se relaxaram com a rotina e ainda que obrigatória eles passaram nem mesmo a abri-la nas checagens. Atenta, Maria percebeu que essa prática já estava sendo muito frequente e pôs-se a arquitetar um plano de fuga.
Maria tornou-se amiga bem próxima da esposa do diretor da prisão. Em suas frequentes conversas ela reclamou de como a detenção afetou o cérebro de seu marido tornando-o muito doente mentalmente. “Ele trabalha obsessivamente!”, dizia. A solução que ela deu foi devolver todos os muitos livros a seus donos. Com o tempo espalhou-se pela região a história de que Grotius estava acamado e sentindo dores agonizantes. Enquanto isso Maria preparava o baú: fez vários furos pequenos para ventilação e incluiu sua empregada no plano, dando à ela instruções bem detalhadas do que fazer.
Castelo Loevestein
Castelo Loevestein (Fonte: WikiCommons, Hans, fotovlieger.nl)

A Perigosa Fuga

22 de março de 1621. Como de costume o baú de madeira chegou à cela. Grotius começou a colocar livros e alguns objetos mas Maria o impediu dizendo que seria ele quem iria entrar no baú. Após Maria explicar o plano Grotius prontamente recusou argumentando que seria muito perigoso sair dali escondido em um baú de quase um metro de comprimento, mas Maria insistiu até ele concordar. Os guardas levaram o baú e Maria permaneceu na cela. Ela chegou a acompanhar parte do trajeto até o barco por uma pequena janela.
Pouco antes de carregar o barco um dos militares ficou intrigado do por quê o baú estar mais pesado que o usual e disse que iria ao oficial para pedir autorização para abrir. Nesse instante a empregada chamou o soldado e nesse ínterim desviou sua atenção até que os militares colocassem a caixa de madeira no barco sem abri-la.
Grotius estava quase sem ar e muito nervoso. A posição em que ele se encontrava não permitia respirar profundamente e o deixava ainda mais ofegante. Ele tentava controlar o pânico para não fazer o mínimo barulho. Ele pensava que ao descobrir que era ele que estava no baú certamente os militares o jogariam no rio.
Quando o barco chegou à cidade de Gorinchem o baú deveria ser entregue a David Bazelaer, que era um dos amigos de Grotius. Devido ao peso e à distância os militares encontraram uma carroça para o transporte. A empregada no entanto pensando no sofrimento de Grotius, disse que havia vidro no baú e pediu cuidado no manuseio. Os guardas seguiram a instrução e a caixa de madeira foi cuidadosamente entregue ao destinatário.
Baú utilizado na fuga do filósofo
Baú utilizado na fuga do filósofo

Correr Contra o Tempo

Bazelaer, ao receber a “carga”, se assegurou em mandar os criados para fora da casa. Com a empregada ele abriu o baú e ficou feliz de ver Grotius, que estava desorientado e muito ofegante.
O amigo sabia que era momento de fazer algo rapidamente antes que a guarda descobrisse a fuga e começasse a procurá-lo. Imediatamente ele disfarçou Grotius de pedreiro e atravessou a cidade para despachá-lo em algum barco que fosse para Brabante. Na volta ele foi a Loevestein para avisar a Maria.
Enquanto isso a guarda no castelo nem imaginava o que tinha acontecido e somente foi Maria que informou da fuga do marido. O governador indignado impôs que ela ficasse na masmorra.
O Exílio
Hugo Grotius já na França enviou correspondência aos Estados Gerais da Holanda a fim de defender sua inocência, seu patriotismo e garantindo que não tinha sido violento ou usado de corrupção na sua fuga. O governo então o considerou exilado e anulou a sentença de Maria. O casal se reuniu na França e permaneceu sobre a proteção de Luís XIII por 10 anos. Nesse período Hugo Grotius escreveu a sua obra mais importante: “Sobre as leis da guerra e da paz”.

Veja Sobre o que Falar Com Familiares e Amigos:

 

  • Dignidade: Na sua fuga, Hugo Grotius não usou de artifícios para prejudicar quem quer que fosse. Ele igualmente demonstrou integridade e ética em toda fuga, buscando libertar-se de uma situação de opressão e injustiça.
  • Companheirismo: Grotius teve um bom amigo, David Bazelaer, que quis se assegurar que ele partiria para o exílio em segurança. Para isso Bazelaer disfarçou o amigo e o embarcou o mais rápido que pôde. Posteriormente ele ainda foi à prisão avisar a esposa de Grotius, Maria.
  • Criatividade e Engenhosidade: Maria, após estudar e ponderar sobre as possibilidades de fuga, com criatividade ela elaborou o plano para o marido. A fim de executar seu plano de escape, ela utilizou a única comunicação que a prisão tinha com o exterior, o baú.

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