Neste artigo: Um Jornalista em um Regime Impiedoso e Temas Para Conversas com Familiares e Amigos
Sinopse
Em 1975 o Khmer Vermelho chegou a Phnom Pen, Camboja. Dith Pran, um intérprete cambojano, arriscou a vida para ajudar um repórter americano a cobrir a chegada e invasão das tropas. Pego pelo regime, Dith Pran suportou quatro anos de tortura antes de escapar pela selva em busca de liberdade.
Educação e Trabalho Como Intérprete
Nascido em 27 de setembro de 1942, Dith Pran era natural de Siemreab, uma região pertencente à Indochina Francesa, mas que era ocupada por japoneses. Atualmente essa região é um destino popular por ser próxima a um complexo de templos chamado AngkorWat.
Pran teve bom nível social e boa educação. Aprendeu francês na escola e foi autodidata para aprender inglês. O Exército dos Estados Unidos o contratou como intérprete entre 1960-1965. Após isso, ele trabalhou em equipe de cinema e viagens e turismo.
No Fogo Cruzado
Com o apoio dos Estados Unidos o ditador Lon Nol tomou o poder no Camboja. Era o ano de 1970. O então ascendente grupo comunista linha dura Khmer Vermelho fazia oposição ferrenha ao governo. Explodia assim o conflito civil que destruiu o Camboja.
O turismo, que era a principal fonte de renda de Pran, desapareceu. Ele foi forçado a mudar-se para a capital com a família. Lá conseguiu algumas ocupações antes de entrar no jornalismo. Trabalhou como intérprete do repórter do New York Times Sydney Schanberg, o qual se tornou amigo próximo.
Nos anos seguintes o Khmer Vermelho aumentou grandemente seu domínio e influência. Com os Estados Unidos que se retirava do vizinho Vietnã em 1975, o grupo sanguinário já fazia movimentos e rumava para tomar a capital Phnom Penh. Sabendo disso, os americanos prepararam uma evacuação às pressas de seus cidadãos da cidade. Milhares de cambojanos se arremessaram nos últimos caminhões querendo fugir do regime e ir aos Estados Unidos. Pran chegou a entrar em um desses caminhões com sua esposa e quatro filhos, mas decidiu ficar para ajudar o amigo Schanberg a cobrir o evento.
Defesa Arriscada
O Khmer Vermelho chegou à capital e começou a impor uma revolução social baseada em atrocidades jamais vista, com os militares perpetrando saques, violações e assassinatos indiscriminados nas ruas. Schanberg, Pran e alguns repórteres internacionais cobriam o caos em um hospital quando uma tropa os cercou. Com ameaças eles forçaram os profissionais a entrarem em um veículo blindado. Schanberg e os colegas obedeceram, mas Pran tomou a frente e começou uma pesada discussão com momentos de gritos e grande tensão. Schanberg observava e, como não compreendia o idioma, pensava que Dith Pran estava se recusando a entrar no caminhão.
Passado algum tempo os militares libertaram os jornalistas e Schanberg soube depois o que havia acontecido. Naquele dia os soldados tinham decidido procurar e raptar ocidentais para os matar, mas Pran tomou a frente e os defendeu até sua libertação. Ele arriscou sua própria cabeça, mas sua intervenção literalmente salvou suas vidas.
Schanberg sabia que deveria sair do país o quanto antes. Para tirar o amigo ele lhe falsificou um passaporte alemão, mas na fronteira o Khmer Vermelho descobriu o plano de fuga e reteve Pran. Schanberg voltava para casa enquanto seu amigo ficaria preso.
1975 = Zero
O Khmer Vermelho liderado pelo brutal ditador Pol Pot impôs com mão de ferro o regime Kampuchea, que tinha por objetivo transformar o Camboja em uma sociedade comunista agrária sem divisão de classes e sem nenhuma influência externa. Havia uma diretriz direta de executar quem usasse “símbolos imperialistas” como perfumes, maquiagens ou relógios. Quem fosse pertencente a alguma classe instruída como professores, médicos e comerciantes também deveriam ser mortos. Bancos, indústrias, escolas e hospitais foram fechados. As religiões foram banidas e as propriedades confiscadas. O sistema financeiro e a moeda foram abolidos. O regime chegou a decretar o ano de 1975 como o “ano zero”. As estimativas apontam que o regime comunista exterminou mais de 2 milhões de cambojanos, o equivalente a 30% da população.
Vivendo Um Disfarce
Dith Pran concluiu, portanto, que para não ser executado ele deveria declara-se camponês. A partir daí ele mudou a forma de falar, começou primeiramente a utilizar um sotaque do interior do país e reduziu o vocabulário. Passou a dizer que trabalhou pouco tempo como motorista de táxi e que não conhecia nada sobre os americanos. Vestiu-se como camponês depois de ter jogado fora suas roupas ocidentais e o pouco dinheiro que tinha. Durante os próximos 4 anos e meio este era o disfarce que ele deveria manter para sobreviver.
A Dura Vida No Regime
No Camboja havia dezenas de fazendas de trabalhos forçados. Dith Pran foi então recrutado para trabalhar em uma delas situada a 30 km de Siemreab. As exaustivas tarefas na plantação de arroz consumiam 12 horas do dia, sem descanso. À noite havia doutrinação com os valores do regime. Os desmandos eram frequentes, também o eram as atrocidades e as execuções aleatórias. A alimentação se resumia somente a uma colher de arroz por dia, e por consequência muitas pessoas morriam de fome. Pran e alguns aldeões chegaram a comer insetos, cobras e cascas de árvore.
O Amigo Que Lutava Pelo Amigo
Ao mesmo tempo Sydney Schanberg deu todo suporte à família de Pran nos Estados Unidos. Ele constantemente contactava intermediários na fronteira com a Tailândia para divulgar fotos na esperança de ter notícias do amigo desaparecido. Ele fez isso por anos sem, no entanto, ter nenhuma pista se Pran estava vivo. Em 1976 ele dedicou ao amigo o Prêmio Pulitzer por suas reportagens do Camboja.

A Travessia Rumo À Liberdade
No mês de janeiro de 1979 a liderança do Khmer Vermelho temia sobretudo o poder do Vietnam, recentemente unificado. Pol Pot, paranóico, preferiu utilizar a estratégia de atacar preventivamente o que fez o país vizinho invadir e surpreendentemente impor uma derrota humilhante. Era o fim do Khmer Vermelho no Camboja.
Pran retornou à sua cidade natal Siemreab e a encontrou totalmente arrasada. Posteriormente ele relatou ter visto campos inteiros utilizados como sepulturas coletivas e poços cheios de ossos e crânios. Os vietnamitas o nomearam chefe da aldeia, mas logo ele teve que fugir pois descobriram seu passado ligado aos Estados Unidos.
A partir daí Pran correu rumo ao oeste, à Tailândia. Ele atravessou a selva repleta de armadilhas e minas terrestres deixadas lá pelos vietnamitas na invasão. Após 96 km de fuga, exausto e faminto, ele encontrou um posto da Cruz Vermelha no pé de uma colina. Era sua liberdade que o aguardava.
Schanberg ao saber do amigo voou à Tailândia para encontrar Pran e levá-lo aos Estados Unidos e à sua família.
Dith Pran trabalhou como fotógrafo do jornal New York Times e tornou-se cidadão americano em 1986. Ele morreu de câncer no pâncreas aos 65 anos, em 2008.
Veja Sobre o que Falar Com Familiares e Amigos:
- Determinação: Dith Pran teve que se adaptar e manter seu disfarce de camponês convincente durante o longo período de 4 anos. Essa foi uma grande demonstração que ele estava determinado a sobreviver e escapar do regime do Khmer Vermelho assim que tivesse oportunidade.
- Generosidade: O jornalista cambojano continuou sendo solidário e sensível à causa das pessoas afligidas por regimes comunistas. Após sua libertação, seu trabalho denunciou as atrocidades e conscientizou sobre a real tragédia humanitária ocorrida em seu país.
Coragem: Dith Pran arriscou sua vida em defesa do amigo Sydney Schanberg e durante a documentação jornalística da brutalidade e truculência do Khmer Vermelho. Também evidenciou sua coragem ao lançar-se em fuga para a liberdade, mesmo sendo em um campo minado inimigo.
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