Senhorita Insubmergível

Neste artigo: O Drama da Mulher Que Escapou de Três Catástrofes no Mar, incluindo o Titanic e Temas Para Conversas com Familiares

Sinopse

Violet Constance Jessop foi uma comissária de bordo de navio e enfermeira de origem argentino-irlandesa conhecida por incrivelmente sobreviver a três acidentes navais desastrosos: do RMS Olympic, quando colidiu com um navio de guerra britânico em 1911, o naufrágio do RMS Titanic em sua primeira viagem, em 1912 e do rHMHS Britannic, em 1916. Suas memórias e os detalhes de suas experiências ela escreveu em um livro, que foi sucesso de vendas.

Navios “Irmãos”

Na Europa do início do século XX havia uma intensa concorrência entre grandes empresas de transporte marítimo intercontinental. Em 1906, a Cunard Line, de Southampton, lançou os impressionantes navios RMS Lusitania e o RMS Mauretania, conquistando o público. 
Sua concorrente direta era a empresa White Star Line, de Belfast, Irlanda, que se viu forçada a buscar alternativas frente à sua grande rival nesse mercado efervescente e em plena ascensão. Em um período relativamente curto, a empresa lançou os transatlânticos “irmãos”: Olympic em 1911, Titanic em 1912 e Britannic em 1916, com grande ênfase no luxo e conforto para superar a Cunard. Na época, a estratégia da White Star Line para cativar os clientes foi gerar expectativa junto ao público de que estes navios seriam os mais confortáveis do mundo. 
Os navios RMS Olympic, RMS Titanic e HMHS Britannic eram chamados "navios irmãos".
Os navios RMS Olympic, RMS Titanic e HMHS Britannic eram chamados “navios irmãos”.

Infância e Adolescência Difíceis

Violet Constance Jessop nasceu em 2 de outubro de 1887, perto de Bahía Blanca, Argentina. Era filha de imigrantes irlandeses, William e Katherine Jessop, que tiveram nove filhos. Violet Jessop, que era a filha mais velha, passou grande parte de sua infância com a tarefa de cuidar de seus irmãos mais novos. A família vivia uma vida extremamente simples e austera. 
Como as condições eram muito precárias, era comum que as crianças sofressem de várias doenças. Não foi diferente para Violet. Um fato que marcou sua infância foi quando ela, aos 12 anos, caiu gravemente enferma de tuberculose. Os médicos da época não deram esperança à família, dizendo que a menina não teria mais que seis meses de vida. No entanto, apesar do diagnóstico nada animador, ela se recuperou e estava completamente curada um ano depois. 
Aos 16 anos, um novo revés alcançou a família: seu pai morreu devido a complicações de uma cirurgia. Sua família, então, com muita dificuldade, mudou-se para a Inglaterra. Lá, sua mãe começou a trabalhar como comissária de bordo de navios na empresa Royal Mail Line e Violet dividia seu tempo em cuidar dos irmãos e estudar em um convento.
Em 1908, sua mãe Katherine adoeceu e não pôde mais trabalhar. Violet, aos 21 anos, teve que abandonar os estudos e sustentar a família.
Violet Jessop sobreviveu a três desastres no mar.
Violet Jessop sobreviveu a três desastres no mar.

Atraente Demais 

A sua busca por emprego foi no mínimo curiosa. Violet seguiu os passos da mãe e postulou em vagas de comissária de bordo em empresas de navegação. Ela chegou a fazer algumas entrevistas, mas sempre foi reprovada. Ao perguntar a um entrevistador o porquê da negativa, ele foi categórico: o trabalho de comissária de bordo usualmente era para mulheres mais velhas, com aparência mais madura e Violet era jovem, bonita e atraente demais. Isso chamaria a atenção dos passageiros e seria uma distração para a tripulação.
Ela teve, então, que pensar em alguma forma de ser admitida. No dia da entrevista na empresa Royal Mail Line, a mesma que sua mãe havia trabalhado, Violet usou uma maquiagem para parecer mais velha e se apresentou com roupas formais antigas e sem pentear o cabelo. Como resultado, ela foi aprovada. Seu primeiro trabalho foi no imenso navio chamado Orinoco.
Já a bordo, e sem a maquiagem para parecer mais velha, Violet recebeu vários pedidos de casamento vindos dos colegas e dos próprios passageiros durante toda sua carreira.
Danos no Olympic após colisão com Hawke.
Danos no Olympic após colisão com Hawke.

Primeiro Desastre: Olympic

Em 1911, Violet ingressou como comissária de bordo do navio White Star RMS Olympic, que era comandado pelo experiente capitão Edward Smith. Este era um navio de luxo que já tinha o título de maior transatlântico civil da época. Ele oferecia aos passageiros algumas inovações como piscina, banho turco e ginásio de esportes.
Violet estava no Olympic no dia 20 de setembro de 1911, quando partiu de Southampton, Inglaterra, com destino à Nova Iorque. Ela inicialmente aceitou trabalhar pelo salário mínimo apesar dos longos turnos de trabalho, mas o que a preocupava eram as águas agitadas do Oceano Atlântico. Violet não sabia nadar. 
Era a quinta viagem do gigante inglês naquele ano. No trajeto, ele colidiu com o navio de guerra britânico HMS Hawke em uma noite com nevoeiro denso. Com um rasgo no casco, o navio retornou ao porto com grande dificuldade, mas sem nenhuma vítima e a viagem foi ali cancelada. 

Essa colisão é cercada de grande mistério na vida de Violet e ela não a explorou no seu livro de memórias. Perguntada porque omitiu este episódio, Violet simplesmente desconversou, dizendo que o acidente entre o Olympic e o Hawke foi mais difícil entre todos os que ela havia vivenciado e era tudo que poderia falar. Até hoje não se sabe o que foi tão traumático para ela neste acidente.

RMS Titanic, o mais famoso navio "irmão" da empresa White Star Line.
RMS Titanic, o mais famoso navio “irmão” da empresa White Star Line.

Segundo Desastre: Titanic

Aos 24 anos, Violet Jessop foi escalada para trabalhar na primeira viagem do RMS Titanic. Era 10 de abril de 1912. A viagem no imenso navio de luxo teve seu fim em 14 de abril, apenas 4 dias depois da partida, quando atingiu um iceberg no Atlântico Norte. O tempo entre a colisão e ir totalmente a pique foi de pouco mais de duas horas.

Na fatídica noite, Jessop tinha encerrado seu expediente e estava descansando em sua cabine. Ela mostrou à sua colega de quarto um papel que uma passageira irlandesa havia lhe dado, no qual estava escrito uma oração hebraica que pedia a Deus proteção contra a água e contra o fogo. Ela leu a oração e queria mostrar à sua colega de quarto, mas esta não se interessou. Logo em seguida, uma outra comissária de bordo bateu na sua porta. Ao atender, Violet ouviu: “Você sabia que o navio está afundando?”. Ela, sem entender, pediu para repetir. A colega disse: “Vamos sair, pois o navio vai afundar logo.”, e assim ela tirou Violet e sua colega do quarto, levando-as à uma sala na qual os empregados estavam recebendo instruções do que fazer. Nesse momento, a tripulação já havia emitido um sinal geral de socorro, que foi respondido pelo navio RMS Carpathia, que encontrava-se a mais de 90 km de distância.
Em meio à agitação e desespero de um pequeno grupo de passageiros, o capitão do navio Edward Smith ordenou à Violet a subir no convés para dar orientações às pessoas que não falavam inglês. O comandante Edward Smith conhecia bem Violet pois estava a frente do Olympic no dia de seu acidente. Ela relatou em seu livro de memórias que os olhos do capitão demonstravam claramente apreensão, como se soubesse que a situação era grave. No entanto, ele ordenou que ela deveria se portar serena e com comportamento exemplar para acalmar esses passageiros. 
Capitão Edward Smith, comandante do Olympic e do Titanic
Capitão Edward Smith, comandante do Olympic e do Titanic

Bote 16 e Bebê

O Titanic foi chamado de “navio insubmergível” e por causa dessa fama, os projetistas previam que somente 20 botes salva-vidas eram suficientes para a população de cerca de três mil pessoas, entre passageiros e tripulantes.
O tempo passava e a água já tinha tomado conta de grande parte das cabines inferiores. Agora o navio afundava mais rapidamente.
Do ponto onde Violet estava, ela pôde ver a tripulação colocando pessoas nos botes salva-vidas, e ela foi então enviada para ajudar na organização.
Após colocar mais um passageiro no bote número 16, um oficial falou para Violet: “Você! Quero que você entre nesse bote aí.”. Mal ela sentou-se, o bote começou a ser baixado lentamente. Para sua surpresa, o mesmo oficial entregou-lhe um bebê dizendo para ela cuidar dele. Ao afastar-se, Violet assistiu, impressionada, o grande Titanic ser tragado pelas águas do oceano.
A noite estava muito fria e seu bote navegava à deriva como muitos outros. Violet tentou aquecer a criança com seu próprio corpo, aguardando que alguém os resgatasse.
Na manhã seguinte, RMS Carpathia chegou à região do naufrágio e resgatou todos os sobreviventes. 
Conforme o relato de Violet Jessop, enquanto estava a salvo no navio, uma mulher agarrou o bebê que estava em seus braços e fugiu. Mesmo sem entender, ela presumiu que se tratava da mãe da criança. Violet, então, voltou para casa.
Resgate dos sobreviventes do Titanic. Em destaque, Violet Constance Jessop.
Resgate dos sobreviventes do Titanic. Em destaque, Violet Constance Jessop.

Terceiro Desastre: Britannic

Durante a Primeira Guerra Mundial, Jessop serviu como enfermeira da Cruz Vermelha Britânica. Na manhã de 21 de novembro de 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, ela estava a bordo do HMHS Britannic, um transatlântico da White Star Line que havia sido convertido em navio-hospital. A gigante embarcação cruzava o Mar Egeu quando ocorreu uma estrondosa explosão na casa de máquinas. O dano foi tal que o imenso navio foi a pique em inacreditáveis 57 minutos, matando 30 pessoas.

As autoridades britânicas levantaram a hipótese de que o navio foi atingido por um torpedo ou atingiu uma mina aquática plantada pelas forças alemãs. Teorias da conspiração até circularam sugerindo que os britânicos foram responsáveis por afundar seu próprio navio. Nenhuma dessas suposições foi confirmada e não há, até hoje, conclusões definitivas sobre a verdadeira causa da explosão.

O Britannic era um transatlantico de luxo convertido em navio-hospital na Primeira Grande Guerra.
O Britannic era um transatlantico de luxo convertido em navio-hospital na Primeira Grande Guerra.

Diferentemente de seus “irmãos”, o Britannic tinha botes salva-vidas suficientes para passageiros e tripulação. Jessop e outros passageiros embarcaram rapidamente e logo foram baixados. Nesse momento, a proa, isto é, a parte da frente do navio, estava totalmente inundada. Já na água, eles perceberam que as hélices gigantes do barco, que estavam expostas e parcialmente fora da água girando em velocidade máxima, estavam sugando os botes salva-vidas sob a popa. O bote era literalmente puxado em direção às lâminas das hélices.

Jessop via seu bote indo rumo às hélices. Sem saber nadar, ela esperou até o último momento para se arremessar do barco. Ao cair na água, algo atingiu a cabeça. Violet não soube dizer se foi a hélice ou algum destroço do bote. Logo em seguida um outro bote a resgatou juntamente com os outros.
Muitos anos depois, Violet começou a sentir fortes e constantes dores de cabeça. Ao visitar um médico, para sua surpresa ela descobriu que as dores eram decorrentes de um traumatismo craniano. Ela foi medicada, e após fazer um longo e difícil tratamento, passou a ter uma vida normal.

Telefonema Misterioso

Após a guerra, Jessop continuou a trabalhar para a White Star Line, antes de ingressar na Red Star Line e depois na Royal Mail Line novamente. Na Red Star, Jessop fez dois cruzeiros ao redor do mundo no maior navio da empresa, o Belgenland. Com quase trinta anos, Jessop teve um breve casamento e, em 1950, aposentou-se em Great Ashfield, Suffolk. 

Anos após sua aposentadoria, Jessop alegou ter recebido um telefonema, em uma noite de tempestade, de uma mulher que lhe perguntou: “Na noite do naufrágio do Titanic, você salvou um bebê e estava com ele no bote?”. “Sim”, respondeu Jessop. A voz então disse: “Eu era aquele bebê!”, deu uma sonora gargalhada e desligou.

Seu amigo e biógrafo John Maxtone-Graham disse que provavelmente eram algumas crianças da aldeia brincando com ela. Ela respondeu: “Não, John, eu nunca tinha contado essa história a ninguém antes de lhe contar agora.” Os registros indicam que o único bebê no barco 16 era Assad Thomas, que foi entregue a Edwina Troutt e depois se reuniu com sua mãe no Carpathia.

Violet Jessop, que ganhou o apelido de “Senhorita Insubmergível”, morreu de insuficiência cardíaca em 1971, aos 83 anos.

 

Veja os Interessantes Temas Deste Post Para Conversar Com Familiares e Amigos:

  • Colaborativa: Violet Jessop praticamente assumiu a responsabilidade de cuidar de seus irmãos enquanto não trabalhava. Por viverem em  uma situação sem luxo e rodeada de necessidades, foi a forma que Violet encontrou para cooperar com a família.
  • Persistência: Mesmo depois de ter passado por experiência traumática no acidente do Olympic, Violet não abandonou o trabalho em navios. E foi assim após passar pelos naufrágios do Titanic e do Britannic. Ela não mudou de atividade, trabalhando em empresas de navegação até se aposentar.
  • Inteligente: Violet Constance Jessop teve que ser pragmática para vencer o obstáculo da juventude e beleza na sua entrevista de emprego: uma vez que eles precisavam de alguém com aparência de pessoa mais velha, ela se maquiou como tal e vestiu-se com roupas fora de moda. Deste modo, ela conseguiu a vaga.

 

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